Se inicialmente fiquei estupefacta, logo recordei o contexto : não estava na realidade nacional. A luta que se trava em Marselha retrata a habitual medição de força entre poderes que é semelhante nas diferentes latitudes. O que muda aqui, e traduz a evolução das mentalidades nas diferentes culturas, é o conceito de interesse público e o uso do direito de cidadania. Coro de vergonha e de tristeza quando percorro com o olhar a destruição da nossa paisagem, a loucura do litoral acimentado, o despudorado desinteresse pelo património citadino. Quais são as cidades e vilas deste país que têm preservado a sua memória, quer arquitectónica, quer paisagística? Que Câmaras Municipais têm resistido ao apelo cimenteiro das construtoras de gaiolas humanas? Onde ficam os espaços verdes? As velhas e características avenidas, memória de estilos e concepções diferentes de vida e de qualidade,vão desabando sob o olhar conivente dos poderes. Em seu lugar, surgem quadraturas de tijolo ou torres de vidro, espalhando-se dos centros à periferia, com uma única diferenciação : a do maior ou menor luxo, que se traduz no respectivo número de euros.
É este um velho assunto nacional, mas um problema sempre novo em cada dia. Por isso me envergonho da ignorância e da cobardia que mora em cada um de nós e nos impede de usar aquela cidadania.
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