PICASSO, PICASSO,PICASSO

terça-feira, outubro 31, 2006

A vida e a mesa


Merece reflexão. Clique na imagem ou veja o artigo no New York Times

segunda-feira, outubro 30, 2006

Apenas Vivendo

Já há dias que me perseguia a saudade de olhar a cidade, mirá-la lá do alto , ver o casario a escorrer até ao Tejo, fugindo à imponência do Castelo e à bem-aventurança da Sé, para refrescar a alma da trivialidade quotidiana.
Cedo, artilhei-me com trajo cómodo e prendi a câmara fotográfica à cintura. O carro não serve estes propósitos, pensei, vou democratizar-me, usar o metro e as pernas, prática decisão e boa para a saúde. O comodismo embota-nos a perspectiva e damos connosco num dia-a-dia de mordomias que nos enchem o corpo de colesterol e de"pneumáticos". Não é bem o caso, considerei confiante, mas é bom prevenir, que estas coisas espreitam devagar e, bumba, surpreendem-nos quando menos esperamos.
O Sol forçava o poder do calendário que se tinha imposto toda a semana. No céu só de quando em quando alguns farrapos brancos manchavam o tom. Entrei no metro, arrostando com as habituais lutas corpo-a-corpo, os mendigos que estendem mãos e ladaínhas - como estou céptica, meu Deus, porque não acredito mais na maioria deles, presentes, dia após dia, nos mesmos locais, horário de trabalho a cumprir, rotinas de necessidades?! Talvez seja dos embustes que já sofri, de histórias que me foram contadas e de alguma convicção do sofrimento escondido por grande parte dos verdadeiros necessitados. Custa-me pensar que este meu cepticismo possa ser injusto para alguns, talvez torne a suavizar-me .
Cheguei à Baixa incólume, enchi os pulmões de ar e os olhos de prazer. Como se impôem ainda hoje aqueles velhos edifícios, gloriosos do seu passado e linhagem, que isto de arquitectura também tem que se lhe diga. Não misturemos as categorias, por muitos perpassa a sua época e classe, impondo-se à vulgaridade de tantos outros.
Disposta a um olhar diferente pelos cantos esquecidos da cidade, em busca de emoções estéticas, perdi-me na contempação do velho burgo. Resolvi, depois, subir à nossa Torre Eiffel. Porquê esta identificação do elevador de Sta Justa, será apenas a proximidade das respectivas autorias? Satisfez-me a amplitude, apesar do alto preço a pagar pela vista magnífica da cidade - e pelo sumo de laranja na pequena esplanada do alto, adocicado no morno canto brasileiro - esperaria um fado, um vira, mais alma lusitana? - o Tejo beijando as orlas da costa, o Castelo e a Sé a imporem-se na esquadria pombalina. Reconheci, no meu, o olhar de Maluda sobre o casario rosado.
Na descida, não ousei a escadaria vertiginosa que me apertava o peito. Resolvi voltear pelas ruínas do Carmo, volutas que se arredondam nos esqueleto que remanesce. Lembram a beleza das velhas damas nos destroços da idade, reflecti. A mocidade foge, a estrutura mantém a sua dignidade. Desci as velhas ruas, de que me envergonho não fixar os nomes.O facto de não ter nascido lisboeta não o justifica. Já o sou por permanência e mérito. E o amor que dedico à cidade torna isso imperdoável. Decido corrigir-me.
Desci a Rua do Carmo a pensar que outras invocações me esperavam na Gulbenkian. É verdade que o chá quente me deliciou nesse fim de tarde. O bolo de amêndoa, pecadilho, não menos. Valha-nos o prazer do estômago, já que, na visita, alguém sussurrou "o rei vai nu". Ao lado, a "cabana" construída por livros convocava-nos para novo desafio. Uf, posso recusar, consolei-me. O espelho, no interior, afigurou-se-me pouco convincente. Cobardemente, aos dois passos em frente seguiram-se dois atrás, e suspirei de alívio, humilde e vencida.
Acabei o dia satisfeita, cumprida a missão de o viver. Saído das chuvas da semana, um cogumelo esplenderoso desafiava a pedregosa aridez de uma das mais importantes artérias de Lisboa, apostado no seu momento.

Actualidade - As Heranças

Lula saíu vencedor. Como era previsto. Sendo assim, para quê e que comentários, esgotados os dias de campanha, relatos, panegíricos ou críticas. Este imenso país escolheu. Esqueceu os desmandos e a corrupção daqueles a quem entregou, mais do que o leme, a sua possibidade de sobrevivência e renovou um contrato de esperança. Quase todos nós, fazemos de surpreendidos e clamamos contra a naturalidade com que o povo brasileiro aceita essa corrupção. Já olhámos para trás, para a sua e a nossa Histórias? Qual dos anteriores governos pensou no bem geral e governou para o comum dos seus concidadãos? Entre a corrupção com favorecimento das élites e a corrupção com algum favor à multidão de excluídos (de uma sociedade que de direito é sua) haverá escolha? Os brasileiros optaram pelas suas necessidades básicas. Alguém, antes de Lula, pretendeu acabar com a miséria, as favelas, as incomensuráveis discrepâncias sociais? Quem pensa na corrupção da mão que lhe mata a fome?
Colômbia, Bolívia, Paraguay, Brasil...., não há coincidências na situação dos povos da América Latina. O imenso sub-continente reproduz o legado dos seus colonizadores. Bem podemos olhar- nos neste espelho.

sexta-feira, outubro 27, 2006

Pompeia -"Goza enquanto podes"

Notícia do "Times" de hoje é a recuperação de mais um importante pedaço da história antiga através do luxuoso lupanar de Pompeia, cujos frescos eróticos acabam de ser restaurados. Direccionado para a élite de então, fornecia-se de belas e competentes jovens, sobretudo escravas de proveniência oriental. Os frescos informavam os clientes dos serviços em oferta, cujos preços eram expostos no exterior do edifício. Sem dúvida cumpria-se o lema "Goza enquanto podes".
Vem a propósito lembrar que a mítica Pompeia, situada na Câmpania, a sudeste de Nápoles, terá sido construída no séc. VI a. C. pelos Oscos. Sofreu infuências de Gregos e de Etruscos, além de outras, mas é sobretudo a influência grega que lhe dará o aspecto de cidade helenística. Colónia romana desde 80 a. C., tornou-se estância de veraneio para os romanos até à catástrofe que a eternizaria em pedra, mas matou a maioria dos seus habitantes. De facto, a erupção do Vesúvio em 79 soterrou-a completamente. Foi descoberta em 1748 e em 1806 as escavações arqueológicas tornaram-se sistemáticas, devolvendo à luz, gradualmente, um tesouro e um valioso contributo para o estudo de vários aspectos culturais da época por ser a única cidade antiga conservada quase intacta.
O escritor e erudito Plínio, O Velho, morreu quando fugia para a costa. A narrativa da catástrofe seria feita por seu sobrinho, Plínio, O Jovem, escritor e político romano, que além desse e de outros escritos nos deixou as suas "Epístolas", outro valioso documento para o estudo político da sua época.
Também alguém, perante a iminência da morte, pôde ainda escrever, na parede de uma casa de Pompeia, versos de Virgílio :" Todos se calaram..."

Actualidade

quarta-feira, outubro 25, 2006

Efemérides - Pablo Picasso

1881
25 de Outubro - Pablo Picasso nasce em Málaga, filho de um professor de desenho que o educou para a arte. Posteriormente, estudou e viveu em Barcelona, indo mais tarde para Paris, onde trabalhou e conviveu com os grandes vultos artísticos da época e se consagrou um dos maiores e mais influentes pintores do séc. XX.. Deixou diversos trabalhos no campo da escultura, gravação e cerâmica, mas é, de facto, na pintura que se consagra e influencia os seus congéneres. A vida amorosa, intensa e aventureira como a sua personalidade, também se reflectiu na eclética obra. Atravessa vários períodos dos quais se destacam o inicial azul, depois o rosa e o negro. Neste germina o cubismo, de que Picasso foi tão alto expoente e cujo início se assinala com o trabalho "Les Demoiselles d'Avignon", aqui representado. Nos últimos anos voltou à temática da juventude - touros, circo, teatro. Morreu em Mougins, França, aos 91 anos de idade.
Celebérrima é a sua "Guenica", símbolo da dor e da devastação provocadas pela guerra civil em Espanha, e que é hoje símbolo de protesto universal.

terça-feira, outubro 24, 2006

As musas dos portugueses

Cá dentro falta-nos tudo. Não temos dinheiro, nem cultura, nem trabalho, nem reforma. Mas temos soluções. Rouba-se. Todos os dias vemos exemplos. E como se não bastasse o supermercado, a edp,o irs, o médico, o mecânico, o Banco ou o Ministério da saúde, há ainda os gangs que proliferam e que não sei se aprendem com aqueles ou se aqueles com estes. Mas é com certeza de inspiração estrangeira. Morremos por estrangeirismos ...Caem bem e fazem-nos parecer mais belos e mais inteligentes. Por isso Marques Mendes se avantaja, com o seu côro de marcelistas comentadores. À míngua de imaginação, vão buscá- la lá fora, claro. A musa húngara vem a calhar, nós somos ingénuos, e eles erguem o seu repetitivo côro, tentando fazer esquecer a música funesta e decadente que maestraram enquanto regentes da orquestra.
Os impolutos estão horrorizados com as promessas não cumpridas.Viveram dos nossos impostos, alimentaram as grandes fortunas, permitiram a delapidação do Estado, ostentaram as suas cortes, e tudo a Bem da Nação e da verdade que nos prometeram. Agora querem voltar. Com as musas...

segunda-feira, outubro 23, 2006

Comunicando

(imagem DAQUI)

Assinalo aqui a emergência de um novo blog, a cujo nascimento não estão alheios, ao que julgo, as saudades da térmica doçura ambiental e afectiva. Que isto de ser cidadão do Mundo tem que se lhe diga, apesar das bem-aventuranças de toda a espécie que colhemos se soubermos aproveitar. Todos os dias falamos dos malefícios da globalização, mas é bom que assinalemos também as oportunidades que crescem neste "maravilhoso mundo novo" e a enorme abertura mental que pode proporcionar. Paga-se um tributo, visível nas páginas deste blog. O autor procura mitigá-lo na ligação cibernáutica com os seus afectos, ao mesmo tempo que narra a aprendizagem feita em cada avanço na integração, não incompatível, pelo contrário, com a procura saboreada de estímulos sensoriais que evocam o nosso pátrio rectângulo.
Por isso te saúdo, "The Expart Flying", contigo dou passos de carinho,de universalismo, e aprendo outros, mais concretos e triviais, visionando, através de ti, o desenho de realidades que a distância me não concede.
Até sempre.

Egofonias

De um nada nasce a diferença. Andava eu naufragada, perdida entre uma abúlica e inesperada indiferença por aquilo que antes tanto me entusiasmava e uma certa (des)convicção do que vale, ou não, a pena, quando se escancarou a porta que interliga emoções em qualquer peito, caminhantes de qualquer latitude. Li e reli o meu último impublicado texto, fechado numa erótica sensação de vazio e de voyeurismo existencial.
"Tumba,
écran gigante, cortinas cerradas coando a luz que me induz, sonâmbula.
A corrida é lá fora, fica a dormência do que vive por dentro.
Dilatada a ilusória forma do que pode ser. Sou e não sou.
A esmo dormito e galgo escadas , sem rumo e sem fim.
No caminho as pedras, flores do meu sonho."
*
Despedaço os pensamentos e o texto. Vou refazer o sentido, na assumpção da onda magnética que o submergiu. Cada dia, uma vida.