PICASSO, PICASSO,PICASSO

domingo, novembro 26, 2006

1923-2006 - Cesariny

Vi-o na TV há duas ou três semanas, talvez, rindo ainda com aquela alegria "perversa" e infantil, tão comovente na sua ossuda octogenaridade. Era a festa dos três grandes pioneiros do nosso surrealismo, pois tratava-se da exposição de 90 obras de Cesariny, Cruzeiro Seixas e Fernando José Francisco, na Perve Galeria, aqui na capital. Doente, mas plenamente vivo, como sempre. Agora, dias depois, perante a morte de Mário Cesariny, são as suas palavras que nos ilustram os sentimentos:
"A manhã está tão triste/Que os poetas românticos de Lisboa/
Morreram todos com certeza..."
e o transitório: "Em todas as ruas te encontro,/em todas as ruas te perco..."
Decerto, estarás sempre connosco em todas as ruas da tua cidade.

As duas faces do Homem

Sereno, inteligente, sóbrio, como seria nos seus tempos de professor e o confirmam antigos alunos. Rómulo de Carvalho, em diálogo interessante, afirmava um destes dias, numa reposta entrevista televisiva, não acreditar nos homens, em qualquer regime. Cada qual procurará, sempre, tirar proveito próprio em qualquer circunstância, ditadura ou democracia (o que valoriza a democracia - digo eu - onde o outro tem opção de reagir). Curiosamente, em António Gedeão, disse-nos:
.
Eles não sabem nem sonham,
que o sonho comanda a vida
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

sábado, novembro 25, 2006

Premência


Parou a chuva, é sábado e há Sol. Assinala-se hoje o "Dia Internacional para Eliminar a Violência Contra as Mulheres". Arde-me a alma na ânsia de abraçar o ar livre. Urge matar esta "fome", agora, enquanto relembro com Manuel Alegre:
"...Recordas os dias longos de Verão
as folhas caem-te por dentro..."
Mais logo, tornarei a ser pensante.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Schopenhauer tem razão?

Litvinenco morreu. O seu envenenamento torna Puttin suspeito, o próprio Litvinenco escreve essa acusação. Recordo o caso do presidente ucraniano, alvo de tentativa de homícídio, por envenenamento, durante a última campanha eleitoral. Safou-se. Com sequelas. Bons costumes andam por aí... Pensava eu ultrapassado o ciclo infernal de Tibérios, Calígulas, Lívias e Messalinas, tão ao gosto da gloriosa, mas decadente, Roma. Schopenhauer afirmava "quanto mais conheço os homens, mais gosto dos cães". Por vezes, apetece segui-lo.

Darwin

(imagem Daqui)
A 24 de Novembro de 1859, Charles Darwin publicou o resultado das suas laboriosas investigações, oportunamente desenvolvidas durante uma longa viagem de cinco anos, a bordo do Beagle. Visitou variadíssimos locais, entre eles as ilhas Galápagos, que lhe forneceram muito material - fósseis,espécimes variados e vivos, gentes diferentes entre nativos e colonos, além de tempo para leituras . As conclusões do inovador trabalho que daí resultou - "A Origem das Espécies Através da Selecção Natural" - resolviam muitos enigmas do então limitado conhecimento científico em Biologia, mas punham em causa as explicações religiosas da origem do Homem e das outras espécies. Darwin defendeu que a selecção natural leva à evolução das espécies e, mais tarde, numa outra obra publicada em 1871, "Descendência do Homem e Selecção na Relação com o Sexo", apresenta evidências de que o Homem descende do macaco. Óbviamente, não conquistou as boas graças dos cristãos ortodoxos, mas é um ponto de referência para os cientistas posteriores.
Neste mesmo dia, mas de 1976, nasce o João.

Requiem

O "El País" traz hoje um artigo sobre a comunidade de Tabitha's Place que diz ser uma seita de origem americana, orientada exclusivamente pela Bíblia. Exercerá graves desvios no campo dos abusos sobre alguns dos seus elementos, nomeadamente os jovens, a nível da liberdade, da saúde, da educação e outros. Todos conhecemos os casos dramáticos de outras seitas que este artigo nos traz à memória. Não posso deixar de salientar isso, apesar da simpatia pelo ideal fraterno que uma comunidade pressupõe, mas que a complexa natureza humana compromete ao deixar-se dominar pela força animal de algumas das nossas características básicas. Mas também mantenho algumas reservas relativamente aos nossos conceitos generalistas de vida e do nosso direito de os impor aos outros, como aquando das nossas "epopeias" colonialistas. Parece-me, de qualquer modo, altura para um "Requiem" pelos Homens e por mais um "Paraíso Perdido".

Actualidade - iberismo


José Sócrates e Zapatero reúnem-se em Espanha para discutir estratégias ibéricas relativas ao gás e à electricidade no mercado peninsular e às que deverão adoptar, em conjunto, face à agenda internacional; os caricaturistas brindam-nos com alusões que já nada têm que ver com "bons e maus ventos ou casamentos". De facto, segundo o El País, as estatísticas demonstram como as relações entre os dois países se vão estreitando a todos os níveis. Com ganho para Espanha, neste momento crítico da economia nacional, mas que, se devidamente aproveitadas, podem reverter também a nosso favor, assim ainda resista em nós o apregoado espírito de ousadia que ilustra os panegíricos da nossa História (e que ultrapasse o espírito imediatista e limitado do comércio "troca-tintas") . Para já, temos os 1,8 milhões de visitantes lusos à nossa vizinha do lado, as compras em Badajoz ou Ayamonte (e outras) com o inevitável enchimento do depósito da gasolina, o recurso a clínicas de saúde mais bem apetrechadas, a promessa de novos vôos directos a ligar as principais cidades espanholas ao Algarve e a do inevitável TGV - que, deixemo-nos de histórias, não é possível rejeitar - e as lojas que nos invadem, mas também possibilitam umas "roupitas" modernas e mais acessíveis. De rir a preocupação daqueles senhores (ao que parece com evidência para vários oficiais jubilados do exército) que apresentaram queixa do ministro Mário Lino, por traição: declarou-se iberista, afirmando que "a unidade histórica e cultural ibérica é uma realidade que persegue os governos espanhol e português".
Como, por vezes, podemos ser ridículos!

quinta-feira, novembro 23, 2006

Actualidade - paraísos perdidos

Uma comissão de parlamentares franceses visitou uma comunidade recém-descoberta nos Pirinéus-Atlânticos, onde os habitantes vivem isolados do mundo e dezoito crianças, dos seis aos dezasseis anos, não frequentam escolas. Na comunidade de Tabitha, no entanto, aprende-se a ler e um ocasional contacto com outras pessoas faz-se através da comercialização dos produtos que cultivam nos seus jardins ou hortas. Segundo aqueles, este isolamento inibe o desenvolvimento e cria nos jovens um compreensível medo do mundo exterior.
Reconheço os muitos aspectos negativos deste afastamento, a parcialidade de uma opção que lhes nega a apreensão da realidade total, coarctando o poder de escolha com conhecimento de causa. Mas, bem no meu íntimo, renasce uma invasiva simpatia por este "paraíso perdido". Tão irreal e utópico no conturbado mundo de hoje, leva-me ao bom selvagem rousseauniano e aos líricos devaneios utópicos de Fourier, tão do meu agrado nos tempos idos."Mea culpa".

Solilóquio

(imagem Daqui)

Agastado solilóquio o meu, hoje. Sem carro, é como se me faltassem as pernas, o corpo tolhido por grades invisíveis mas reais, sinto-me presa e sair de casa é esforço insano. Invadem-me as saudades de outros lugares, pequenas urbes onde tudo está ali, a rua, o comércio, os espaços abertos e, sobretudo, o mar. O Mundo ao pé da porta, mas hoje é outra a realidade, o carro na oficina, o funcionário a dizer-me "sabe, há aqui umas coisinhas que não estão bem, estão a partir..., e os custos ... vamos ver, vão subir um pouco, sabe...". Começo a deitar contas à vida, está na altura de pensar em trocá-lo, talvez, mas então e o portátil, sempre vai desta ou não, o Natal aí à porta, as prendas, o frio, a Passagem do Ano, o médico em Compostela, tantas outras coisas, essas sim, necessidades,o que vai ter de ficar para trás ainda desta vez (e coro de vergonha por me autoflagelar por tais razões quando o resto do mundo é esse grito de miséria a que quase ninguém atende). Classe média e portuguesa, traída por este soturno rumorejar. Ele há dias...

quarta-feira, novembro 22, 2006

Actualidade - aprendizagens

Olho para estas imagens, que são hoje uma das notícias mais repetidas nos telejornais, com um sorriso nos lábios que não desmerece a sua importância. Não posso evitar o sentimento de carinho de quem, já maduro, pode ter a veleidade de pôr as coisas no seu devido lugar e perceber quão importante é a experimentação e a actuação nestas etapas do desenvolvimento. Claro que a maioria dos pais e, julgo, dos professores, sabe que as aulas de substituição ( devidamente organizadas) são um benefício devido aos alunos, ponto final, parágrafo.Os próprios alunos também o sabem, mas a "balda" é, aprioristicamente, mais saborosa e as manifestações uma experiência colectiva interessante, que pode e deve ser , também ela, educativa. É uma vivência de cidadania, de solidariedade, de noção de direitos, o que deve levar, em contra-ponto, ao reconhecimento de obrigações. Leve-se este debate à escola, por exemplo numa dessas aulas de substituição, e seguramente que a tornaremos boa e proveitosa.

Eu não sei nada


No princípio só a vida existia;
O mundo era o que havia
Ao alcance da vida...
Tudo era certo, simples, claro.
Quando o passado passar
(E passará, porque o passado é hoje),
E o futuro vier
(E há-de vir, porque o futuro é hoje),
Então sim; há-de saber-se tudo
E tudo será certo, simples, claro.
Eu, porém, não sei nada.
*
(in "Poemas" de Reinaldo Ferreira)
*
Aqui vos deixo esta verdade que também é minha, esperança inútil de saberes e de certezas, acrescentada às minhas horas nestes dias de ausências e de horizontes largos e azuis .