PICASSO, PICASSO,PICASSO

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Afectos

Últimas

Nos lares de homossexuais, não há violência doméstica porque, ao que parece, não são lares...(dizem os juízes?!)

terça-feira, dezembro 19, 2006

Vitorino Nemésio

Autor do programa televisivo "Se Bem me Lembro", Nemésio provou que o "charme" não é atributo da beleza. Abriu os olhos na Ilha de Terceira, nos Açores, em 19 de Dezembro de 1901, mas rumou ao Continente para estudar e cá exerceu o magistério universitário, sem perder o sotaque e o amor natais. A inclinação literária surgiu cedo, deixando obra larga em vários géneros. O ponto alto da sua produção é, no entanto, a obra premiada "Mau Tempo no Canal". Mas seria a capacidade comunicativa, o interessante divagar pelos mais variados assuntos, aparentemente perdido neles, a marca mais profunda da sua personalidade, captando o interlocutor num crescendo de atenção e empolgamento. Foi único nessa arte de encantar.

À solapa

Inesperadamente, as nossas recalcadas e ocultas faces enfrentam-nos de "solapão". Esta tarde, uma delas atravessou-me num cruzamento da cidade. Por ela e para ela, recordo estes versos de Reinaldo Ferreira.
*
E se a tarde vier, deixá-la vir...
E se a noite quiser, pode cobrir
Triunfalmente o céu de nuvens calmas...
*
De costas para o Sol, então veremos
Fundir-se as duas sombras que tivemos
Numa só sombra, como as nossas almas.

Eras

Sob o lençol o caminhante está deitado /Nesta parte do livro da memória /achei ó Dante uma rubrica: Vita nova (...) /Este é tempo de facto e de notícia /Não ouves o rumor do acontecer?
(Manuel Alegre in "Babilónia")

Merry Christmas


segunda-feira, dezembro 18, 2006

histórias laicas

O Presépio dos notáveis e "mui belos" Marqueses de Belas, as Nossas Senhoras do Ó, as Natividades, as Caminhas do Menino tinham visita guiada. Comovente a sublimação do amor maternal, impiedosamente frustrado nas jovens mulheres pela rigidez da sociedade. Na reclusão conventual, apegavam-se às imagens do "Menino", deixando irromper esse amor estrangulado. As "caminhas"(e os enxovais) são disso interessante exemplo.
Cada obra, sua história. Como gosto de as ouvir.
Por isso, convite tentador, o deste sábado à noite. Mas a visita nocturna a um museu pode afigurar-se quase tenebrosa se não for bem orientada, sobretudo se o visitante primar por alguma indiferença pela temática. Agnóstica confessa, o tema religioso arriscava fazer o pleno das não condições. Daí os amigos terem acolhido com espanto a minha rápida anuência (o que a pendura automobilística não sabia é que nos iríamos perder nos meandros nocturnos da cidade. Bem os tenho avisado: fico fora de rotação, à noite. Um péssimo sentido de orientação, diluído quando a luz me alarga o horizonte e desvanece os medos, mas que remasnesce logo que a oportunidade salta. A outro velho companheiro de Faculdade, que lá nos esperava, valeu-lhe ter levado companhia balsãmica para as agruras da espera). E olhar o horizonte das escadarias do Museu, ali nas Janelas Verdes, é um apelo ao romantismo... Recordo sempre o velho pintor que, quando pela primeira vez visitei este lugar, se deteve, subtilmente, no jardim calidamente colorido pelos tons outonais, preparando-me para a ambiência quase mística que nos esperava. Também hoje gostei. E percebi como as instituições, saindo das rotinas, poderiam estimular mais a gente comum no amor pela arte.

O Princípio de Tudo

Em 18 de Dezembro

domingo, dezembro 17, 2006

Retiro

Nada de notícias, política ou leitura de jornais. É uma espécie de retiro sanitário. Lamento não vir relembrar Liv Ullmann (como me impressionaram as suas interpretações e histórias no cinema dos tempos idos - lembram-se dos"Morangos Silvestres"? Nada da moranguice que anda agora por aí), Catarina de Aragão, Margaret Mead (outra personalidade cujo trabalho antropológico me fascina, que quebrou tabus e velhos preconceitos da sociedade americana . Notáveis os estudos sobre as sociedades ditas primitivas como os de Samoa) e Leonid Brejnev, aniversariantes ontem, ou D. Maria I e Fernando Lopes Graça, hoje. Deles falarei, um destes dias, claro. Para já, faço feriado.

As Novas Catedrais...

Velhas Catedrais

(Lleida)

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Exemplos - Barcelona diz "Basta"

A beleza da ficção (imagem Daqui) A crueza da realidade (imagem Daqui)


Bons exemplos chegam de fora. Barcelona pretende acabar com as touradas já em 2008.Os "circos romanos" estão a ficar fora de moda. (http://www.elpais.com/articulo/Barcelona/guardara/corridas/toros/partir/temporada/2008/elpepucul/20061215-elpepucul_2/Tes)

A Origem dos Cometas

Os cientistas que analisaram os materiais trazidos pela "Stardus" divulgam conclusões.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Aphra Behn

Mais uma mulher que lançava as raízes de um futuro diferente.Veio ao mundo nesse frio 14 de Dezembro de 1640, destinada a um percurso tumultuoso que percorreu com força e coragem. Viúva e em dificuldades, viajante e espia, lançou mão de tudo o que lhe permitisse singrar, em época conturbada de lutas entre republicanos e realistas ingleses. Foi a primeira mulher a viver da escrita, precursora do feminismo e de algumas ideias libertárias. De salientar "Oroonoko", como que antecipando "O Bom Selvagem" de Rousseau. Sepultada em Westminster.

As mães e a luta contra a pobreza

Interessantes as conclusões de um estudo que pretendeu apurar a relevância do papel das mulheres no desenvolvimento dos filhos e dos países. Por outras palavras, após a observação de 30 famílias de países em desenvolvimento, a análise conclui que, quando a mãe tem mais poder económico, logo mais decisor, as escolhas familiares favorecem o desenvolvimento das crianças, melhorando as condições de saúde e de acesso à educação, enquanto para os pais, homens, as prioridades são diferentes. Assim sendo, e dado que os melhores instrumentos na luta contra a pobreza são, exactamente, a saúde e a educação, as sociedades não podem nem devem ignorar estas evidências. Artigo de Sylvie Kauffmann, no "Le Monde" (http://www.lemonde.fr/web/article/0,1-0@2-3232,36-844309,0.html)

Salât

De acordo com "Le Soir", o salât, oração muçulmana, constitui (também) um óptimo exercício para a saúde, beneficiando o coração e a coluna vertebral.

Ligações perigosas

Pinto da Costa -> Carolina Salgado
Diminuição de regalias na Segurança Social -> Seguradoras
Magistrados da Justiça -> Associações Desportivas
*
Há pouco, ouvia, espantada, as declarações de um representante sindical dos magistados da justiça, afirmando que o magistrado é um cidadão e, como tal, com direito a ter assento naquelas instituições... Que mais será necessário para que percebam que uma coisa é o direito em abstracto, outra é o ético, no contexto! Ou não interessa perceber?!

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Hoje, Ontem

13 de Dezembro
Concílio de Trento

Paulo III, um Papa que gostava do fausto e que vivia rodeado de luxo, sabia não ser sustentável a situação da Igreja Católica, gravemente atingida pelas controvérsias com Calvino, Lutero e outros, e o consequente nascimento das várias Igrejas Protestantes. Mas possuía uma notável energia - são dele atitudes como a luta contra contra os turcos, a excomunhão de Henrique VIII de Inglaterra, a mediação entre Carlos V e Francisco I , a construcção de S. Pedro em Roma -e, também sob pressão da recém-formada Ordem Jesuíta, deu início neste dia de 1545 ao Concílio de Trento, que se alongou, com interrupções, até 1563. O Concílio pretendeu redefinir a doutrina católica face àqueles que a rejeitavam : a liberdade e responsabilidade humanas e não a predestinação; um cristianismo fiel à antiguidade e aos textos sagrados. A bondade de Deus é realçada, e não só a sua omnipotência, permite-se o uso de imagens cultuais e a veneração dos santos, mas restaura-se a disciplina e proíbe-se a acumulação de benefícios. Os Jesuítas impunham-se. Propunha-se que a misericórdia, a rigidez e a austeridade substituissem o esplendor, o esbajamento e os excessos. Era a Contra-Reforma. Na prática, tivemos a Inquisição, a estreiteza de vistas e o estrangulamento intelectual, a fuga da "inteligência" para os nações mais tolerantes, como os Países-Baixos, e uma orla sul-europeia retrógrada e sem brilho.
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Emily Brontë

Nascida no Yorkshire e cedo orfã de mãe, Emily Brontë e seus irmãos (todos recordam Charotte Brontë) encontraram na escrita a catarse para uma vivência familiar descompensada, numa época que valorizava muito os valores familiares e a conduta moral rígida e apertada. O seu extraordinário romance "O Monte dos Vendavais", retrato dessa sociedade vitoriana, veio à luz a 13 de Dezembro de 1847 e tornar-se ia um clássico da literatura inglesa, com várias adaptações ao cinema.
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Saddam Hussein

Como esconderijo, restou-lhe um buraco. Saddam Hussein foi capturado em 2003 e ainda decorre o seu julgamento. Violador dos direitos humanos, também ele poderia queixar-se disso mesmo "neste ajuste de contas" final. A sua condenação à morte não vai alterar o desastre da intervenção americana no Iraque.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Sem volta, mas com rastilho

Natal sudanês

Em Setembro de 2005, as Nações Unidas aprovaram um texto em que se propunham acabar com os massacres que dizimam a população do Darfour e traduzem o conflito de interesses entre o norte e o sul, mas também os da economia internacional. Não passou disso mesmo, como nos conta o art. "Darfour, les raisons de l`insoutenable silence de la communauté internationale", publicado pelo "Le Temps".

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Amadeo Sousa-Cardoso

Em exposição até 14 de Janeiro, na Fundação Gulbenkian, "pretende estabelecer um reencontro entre a sua obra e a de artistas estrangeiros seus contemporâneos". Confesso que nunca me tinha demorado sobre o seu trabalho, o que me deu a vantagem de uma surpresa extasiante. Estes trabalhos de Sousa-Cardoso honram qualquer país. A não perder.

Actualidade - Iraque



domingo, dezembro 10, 2006

homens


Responsável pela tortura e assassinato de dezenas de milhares de chilenos que lutavam pela democracia no seu país.
Morreu. Sem castigo.

Efemérides-Direitos Humanos

Quase olho para o dia 10 de Decembro com o sorriso beatífico de quem acredita na Humanidade. Vejamos : D. Maria II de Portugal decretou, neste dia de 1836, a proibição do tráfico de escravos nos domínios portugueses, embora só em Fevereiro de 1869 se tenha decretado a sua extinção.
Em 1948, a Assembleia Geral da ONU adoptou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, cujo artigo 1º diz: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade."
Em 1901 foram atribuídos os primeiros prémios Nobel (cinco anos após a morte de Alfred Nobel, inventor da dinamite e, ao que parece, boa pessoa, pois diz-se que o seu testamento pretende redimi-lo do uso devastador dado pela humanidade ao seu invento).
Em 1984 é proibida a tortura de acordo com a Convenção das Nações Unidas.
Já em 1997 o Supremo Tribunal Suíço determinou que os 100 milhões de dólares que o casal Marcos tinha em bancos fosse (re)entregue ao governo filipino.
Tudo isto é tão bonito de recordar, até parece que o Homem vai evoluindo, não fora a realidade de todos os dias.

sábado, dezembro 09, 2006

Megalomanias

Este ano ainda não dei aquela "voltinha" para ver a cidade engalanada com os brilhos de Natal. Reflectidos angularmente pelas gotas das chuvas ou angularizados apenas pelo frio, são sempre sinónimos de festa, talvez não tanto de alegria. Confesso que me penetram de forma ambígua, e pergunto-me se, de facto, me agradam assim tanto. Desde sempre gostei do Natal (agora menos), mau-grado alguns muito arrevezados, que a vida não escolhe datas para nos pregar partidas: algumas, e grandes, me foram feitas lá bem em cima. Apesar disso, o Natal cheira a família, a saudade, a doce cavaqueira, a agasalho e a doces. Mesmo que o nosso não o seja tanto assim, cheira, porque nos alcança o cheiro que deixa nos outros, nas luzes e no ar. E nas crianças. Que isto de "sermos todos solidários e irmãos", para a grande maioria dos terráqueos nem no Natal nem nunca. Mas o meu propósito não era arengar sobre o imenso negócio que esta "festa" gera, nem sobre a dor de cabeça daqueles que têm de multiplicar os cêntimos como Jesus multiplicava os pães. O que eu queria era, isso sim, reflectir sobre a prosápia que domina a cidade e o país, a grande glória de ostentar a maior árvore, as mais numerosas luzes, o maior brilho provisório. Porque cá é tudo provisório. O que é preciso é constar do Guiness. A maior mesa, ou tarte, caldeirada, equilibrista, ou memorizador de números. Basófias, luta de terceiro-mundistas. A de Lisboa ou do Brasil? Qual a maior, com mais luzes e mais gastos? Crise? Esqueçamos, amanhã se verá. Somos os maiores em perícias inúteis. A educação e o conhecimento dão muito trabalho, são de todos os dias.

Futebóis

Carolina Salgado vem acusar , na sua autobiografia,o antigo companheiro, Pinto da Costa, de aliciamento de árbitros (ao que parece por intermédio da própria), e da autorial moral de algumas agressões. Espanta-me a oportunidade da noção de honestidade e de ética. Sirva, ao menos, para alguma coisa.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

John Lennon

Hoje. Em sua memória. Em memória de um tempo. Ouça AQUI

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Entrementes

(Imagem "automobilizada" de uma Av. Coimbrã)

Defeito de personalidade, talvez, gosto muito de "entrementes". Deixar a alma um pouco lá, tê-la já presa no ponto de chegada, mas pairar ainda acima de tudo, sem comprometimentos imediatos e objectivos, numa espécie de "limbo", quanto a mim mais acolhedor que qualquer idealizado "paraíso". Deve ser por isso que gosto tanto de viajar, não importa a distância. Às vezes, naqueles dias de inexplicadas ansiedades, envolvo-me no carro e percorro caminhos, quase sem destino, que o importante é a deriva, em liberdade, pensamentos à solta. Agora, imposta que era a visita a Santiago, bebi todas as paisagens, louvando as cores outonais, dos ruivos aos verdes doirados. A chuva caíu quase sempre, impedindo boas imagens, ficaram pálidos exemplos da sumptuosa paleta ostentada pelas árvores deste fantástico bordado urbano coimbrão.

Ary dos Santos

Outro idealista, porventura de natureza mais frágil, gritava nele a alma, que era a de um poeta (conheci, muito vagamente, um irmão que se suicidou por amor, segundo ouvi, o que comprovará esse carácter genéticamente sensível). Nasceu neste dia de 1937, e todos ainda o cantamos:

"...Original é o poeta/de origem clara e comum/que sendo de toda a parte/ não é de lugar algum..."

ou pela voz sofrida da já saudosa Amália

"...Meu amor meu amor/meu nó de sofrimento/minha mó de ternura/minha nau de tormento/este mar não tem cura este céu não tem ar/nós parámos o vento não sabemos nadar/e morremos morremos/devagar devagar..."

Mário Soares

Aniversariante hoje, nascido em 1924, personalidade exemplar nas vitórias e nas derrotas. Os erros são os de homem, que não deus, mas a força, as convicções, a luta por ideais são as de quem, envelhecido o corpo, não deixa esmorecer espírito e intelecto. O Pintor captou-lhe essa aura de bonomia e de força, num misto que, em Soares, não é contradição. De parabéns também Júlio Pomar, por esta obra.

Pearl Harbor

Na madrugada de 7 de Dezembro de 1941, uma esquadra japonesa de 360 aviões bombardeava a base naval americana no Pacífico. Falhou o objectivo de destruir a sua aviação, que não estava presente na baía, mas destruiu ou afundou a frota americana, matou 2400 dos seus homens e conseguiu levar os americanos à Segunda Guerra Mundial. Com isso, mudou definitivamente o seu rumo.

domingo, novembro 26, 2006

1923-2006 - Cesariny

Vi-o na TV há duas ou três semanas, talvez, rindo ainda com aquela alegria "perversa" e infantil, tão comovente na sua ossuda octogenaridade. Era a festa dos três grandes pioneiros do nosso surrealismo, pois tratava-se da exposição de 90 obras de Cesariny, Cruzeiro Seixas e Fernando José Francisco, na Perve Galeria, aqui na capital. Doente, mas plenamente vivo, como sempre. Agora, dias depois, perante a morte de Mário Cesariny, são as suas palavras que nos ilustram os sentimentos:
"A manhã está tão triste/Que os poetas românticos de Lisboa/
Morreram todos com certeza..."
e o transitório: "Em todas as ruas te encontro,/em todas as ruas te perco..."
Decerto, estarás sempre connosco em todas as ruas da tua cidade.

As duas faces do Homem

Sereno, inteligente, sóbrio, como seria nos seus tempos de professor e o confirmam antigos alunos. Rómulo de Carvalho, em diálogo interessante, afirmava um destes dias, numa reposta entrevista televisiva, não acreditar nos homens, em qualquer regime. Cada qual procurará, sempre, tirar proveito próprio em qualquer circunstância, ditadura ou democracia (o que valoriza a democracia - digo eu - onde o outro tem opção de reagir). Curiosamente, em António Gedeão, disse-nos:
.
Eles não sabem nem sonham,
que o sonho comanda a vida
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

sábado, novembro 25, 2006

Premência


Parou a chuva, é sábado e há Sol. Assinala-se hoje o "Dia Internacional para Eliminar a Violência Contra as Mulheres". Arde-me a alma na ânsia de abraçar o ar livre. Urge matar esta "fome", agora, enquanto relembro com Manuel Alegre:
"...Recordas os dias longos de Verão
as folhas caem-te por dentro..."
Mais logo, tornarei a ser pensante.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Schopenhauer tem razão?

Litvinenco morreu. O seu envenenamento torna Puttin suspeito, o próprio Litvinenco escreve essa acusação. Recordo o caso do presidente ucraniano, alvo de tentativa de homícídio, por envenenamento, durante a última campanha eleitoral. Safou-se. Com sequelas. Bons costumes andam por aí... Pensava eu ultrapassado o ciclo infernal de Tibérios, Calígulas, Lívias e Messalinas, tão ao gosto da gloriosa, mas decadente, Roma. Schopenhauer afirmava "quanto mais conheço os homens, mais gosto dos cães". Por vezes, apetece segui-lo.

Darwin

(imagem Daqui)
A 24 de Novembro de 1859, Charles Darwin publicou o resultado das suas laboriosas investigações, oportunamente desenvolvidas durante uma longa viagem de cinco anos, a bordo do Beagle. Visitou variadíssimos locais, entre eles as ilhas Galápagos, que lhe forneceram muito material - fósseis,espécimes variados e vivos, gentes diferentes entre nativos e colonos, além de tempo para leituras . As conclusões do inovador trabalho que daí resultou - "A Origem das Espécies Através da Selecção Natural" - resolviam muitos enigmas do então limitado conhecimento científico em Biologia, mas punham em causa as explicações religiosas da origem do Homem e das outras espécies. Darwin defendeu que a selecção natural leva à evolução das espécies e, mais tarde, numa outra obra publicada em 1871, "Descendência do Homem e Selecção na Relação com o Sexo", apresenta evidências de que o Homem descende do macaco. Óbviamente, não conquistou as boas graças dos cristãos ortodoxos, mas é um ponto de referência para os cientistas posteriores.
Neste mesmo dia, mas de 1976, nasce o João.

Requiem

O "El País" traz hoje um artigo sobre a comunidade de Tabitha's Place que diz ser uma seita de origem americana, orientada exclusivamente pela Bíblia. Exercerá graves desvios no campo dos abusos sobre alguns dos seus elementos, nomeadamente os jovens, a nível da liberdade, da saúde, da educação e outros. Todos conhecemos os casos dramáticos de outras seitas que este artigo nos traz à memória. Não posso deixar de salientar isso, apesar da simpatia pelo ideal fraterno que uma comunidade pressupõe, mas que a complexa natureza humana compromete ao deixar-se dominar pela força animal de algumas das nossas características básicas. Mas também mantenho algumas reservas relativamente aos nossos conceitos generalistas de vida e do nosso direito de os impor aos outros, como aquando das nossas "epopeias" colonialistas. Parece-me, de qualquer modo, altura para um "Requiem" pelos Homens e por mais um "Paraíso Perdido".

Actualidade - iberismo


José Sócrates e Zapatero reúnem-se em Espanha para discutir estratégias ibéricas relativas ao gás e à electricidade no mercado peninsular e às que deverão adoptar, em conjunto, face à agenda internacional; os caricaturistas brindam-nos com alusões que já nada têm que ver com "bons e maus ventos ou casamentos". De facto, segundo o El País, as estatísticas demonstram como as relações entre os dois países se vão estreitando a todos os níveis. Com ganho para Espanha, neste momento crítico da economia nacional, mas que, se devidamente aproveitadas, podem reverter também a nosso favor, assim ainda resista em nós o apregoado espírito de ousadia que ilustra os panegíricos da nossa História (e que ultrapasse o espírito imediatista e limitado do comércio "troca-tintas") . Para já, temos os 1,8 milhões de visitantes lusos à nossa vizinha do lado, as compras em Badajoz ou Ayamonte (e outras) com o inevitável enchimento do depósito da gasolina, o recurso a clínicas de saúde mais bem apetrechadas, a promessa de novos vôos directos a ligar as principais cidades espanholas ao Algarve e a do inevitável TGV - que, deixemo-nos de histórias, não é possível rejeitar - e as lojas que nos invadem, mas também possibilitam umas "roupitas" modernas e mais acessíveis. De rir a preocupação daqueles senhores (ao que parece com evidência para vários oficiais jubilados do exército) que apresentaram queixa do ministro Mário Lino, por traição: declarou-se iberista, afirmando que "a unidade histórica e cultural ibérica é uma realidade que persegue os governos espanhol e português".
Como, por vezes, podemos ser ridículos!

quinta-feira, novembro 23, 2006

Actualidade - paraísos perdidos

Uma comissão de parlamentares franceses visitou uma comunidade recém-descoberta nos Pirinéus-Atlânticos, onde os habitantes vivem isolados do mundo e dezoito crianças, dos seis aos dezasseis anos, não frequentam escolas. Na comunidade de Tabitha, no entanto, aprende-se a ler e um ocasional contacto com outras pessoas faz-se através da comercialização dos produtos que cultivam nos seus jardins ou hortas. Segundo aqueles, este isolamento inibe o desenvolvimento e cria nos jovens um compreensível medo do mundo exterior.
Reconheço os muitos aspectos negativos deste afastamento, a parcialidade de uma opção que lhes nega a apreensão da realidade total, coarctando o poder de escolha com conhecimento de causa. Mas, bem no meu íntimo, renasce uma invasiva simpatia por este "paraíso perdido". Tão irreal e utópico no conturbado mundo de hoje, leva-me ao bom selvagem rousseauniano e aos líricos devaneios utópicos de Fourier, tão do meu agrado nos tempos idos."Mea culpa".

Solilóquio

(imagem Daqui)

Agastado solilóquio o meu, hoje. Sem carro, é como se me faltassem as pernas, o corpo tolhido por grades invisíveis mas reais, sinto-me presa e sair de casa é esforço insano. Invadem-me as saudades de outros lugares, pequenas urbes onde tudo está ali, a rua, o comércio, os espaços abertos e, sobretudo, o mar. O Mundo ao pé da porta, mas hoje é outra a realidade, o carro na oficina, o funcionário a dizer-me "sabe, há aqui umas coisinhas que não estão bem, estão a partir..., e os custos ... vamos ver, vão subir um pouco, sabe...". Começo a deitar contas à vida, está na altura de pensar em trocá-lo, talvez, mas então e o portátil, sempre vai desta ou não, o Natal aí à porta, as prendas, o frio, a Passagem do Ano, o médico em Compostela, tantas outras coisas, essas sim, necessidades,o que vai ter de ficar para trás ainda desta vez (e coro de vergonha por me autoflagelar por tais razões quando o resto do mundo é esse grito de miséria a que quase ninguém atende). Classe média e portuguesa, traída por este soturno rumorejar. Ele há dias...

quarta-feira, novembro 22, 2006

Actualidade - aprendizagens

Olho para estas imagens, que são hoje uma das notícias mais repetidas nos telejornais, com um sorriso nos lábios que não desmerece a sua importância. Não posso evitar o sentimento de carinho de quem, já maduro, pode ter a veleidade de pôr as coisas no seu devido lugar e perceber quão importante é a experimentação e a actuação nestas etapas do desenvolvimento. Claro que a maioria dos pais e, julgo, dos professores, sabe que as aulas de substituição ( devidamente organizadas) são um benefício devido aos alunos, ponto final, parágrafo.Os próprios alunos também o sabem, mas a "balda" é, aprioristicamente, mais saborosa e as manifestações uma experiência colectiva interessante, que pode e deve ser , também ela, educativa. É uma vivência de cidadania, de solidariedade, de noção de direitos, o que deve levar, em contra-ponto, ao reconhecimento de obrigações. Leve-se este debate à escola, por exemplo numa dessas aulas de substituição, e seguramente que a tornaremos boa e proveitosa.

Eu não sei nada


No princípio só a vida existia;
O mundo era o que havia
Ao alcance da vida...
Tudo era certo, simples, claro.
Quando o passado passar
(E passará, porque o passado é hoje),
E o futuro vier
(E há-de vir, porque o futuro é hoje),
Então sim; há-de saber-se tudo
E tudo será certo, simples, claro.
Eu, porém, não sei nada.
*
(in "Poemas" de Reinaldo Ferreira)
*
Aqui vos deixo esta verdade que também é minha, esperança inútil de saberes e de certezas, acrescentada às minhas horas nestes dias de ausências e de horizontes largos e azuis .

terça-feira, outubro 31, 2006

A vida e a mesa


Merece reflexão. Clique na imagem ou veja o artigo no New York Times

segunda-feira, outubro 30, 2006

Apenas Vivendo

Já há dias que me perseguia a saudade de olhar a cidade, mirá-la lá do alto , ver o casario a escorrer até ao Tejo, fugindo à imponência do Castelo e à bem-aventurança da Sé, para refrescar a alma da trivialidade quotidiana.
Cedo, artilhei-me com trajo cómodo e prendi a câmara fotográfica à cintura. O carro não serve estes propósitos, pensei, vou democratizar-me, usar o metro e as pernas, prática decisão e boa para a saúde. O comodismo embota-nos a perspectiva e damos connosco num dia-a-dia de mordomias que nos enchem o corpo de colesterol e de"pneumáticos". Não é bem o caso, considerei confiante, mas é bom prevenir, que estas coisas espreitam devagar e, bumba, surpreendem-nos quando menos esperamos.
O Sol forçava o poder do calendário que se tinha imposto toda a semana. No céu só de quando em quando alguns farrapos brancos manchavam o tom. Entrei no metro, arrostando com as habituais lutas corpo-a-corpo, os mendigos que estendem mãos e ladaínhas - como estou céptica, meu Deus, porque não acredito mais na maioria deles, presentes, dia após dia, nos mesmos locais, horário de trabalho a cumprir, rotinas de necessidades?! Talvez seja dos embustes que já sofri, de histórias que me foram contadas e de alguma convicção do sofrimento escondido por grande parte dos verdadeiros necessitados. Custa-me pensar que este meu cepticismo possa ser injusto para alguns, talvez torne a suavizar-me .
Cheguei à Baixa incólume, enchi os pulmões de ar e os olhos de prazer. Como se impôem ainda hoje aqueles velhos edifícios, gloriosos do seu passado e linhagem, que isto de arquitectura também tem que se lhe diga. Não misturemos as categorias, por muitos perpassa a sua época e classe, impondo-se à vulgaridade de tantos outros.
Disposta a um olhar diferente pelos cantos esquecidos da cidade, em busca de emoções estéticas, perdi-me na contempação do velho burgo. Resolvi, depois, subir à nossa Torre Eiffel. Porquê esta identificação do elevador de Sta Justa, será apenas a proximidade das respectivas autorias? Satisfez-me a amplitude, apesar do alto preço a pagar pela vista magnífica da cidade - e pelo sumo de laranja na pequena esplanada do alto, adocicado no morno canto brasileiro - esperaria um fado, um vira, mais alma lusitana? - o Tejo beijando as orlas da costa, o Castelo e a Sé a imporem-se na esquadria pombalina. Reconheci, no meu, o olhar de Maluda sobre o casario rosado.
Na descida, não ousei a escadaria vertiginosa que me apertava o peito. Resolvi voltear pelas ruínas do Carmo, volutas que se arredondam nos esqueleto que remanesce. Lembram a beleza das velhas damas nos destroços da idade, reflecti. A mocidade foge, a estrutura mantém a sua dignidade. Desci as velhas ruas, de que me envergonho não fixar os nomes.O facto de não ter nascido lisboeta não o justifica. Já o sou por permanência e mérito. E o amor que dedico à cidade torna isso imperdoável. Decido corrigir-me.
Desci a Rua do Carmo a pensar que outras invocações me esperavam na Gulbenkian. É verdade que o chá quente me deliciou nesse fim de tarde. O bolo de amêndoa, pecadilho, não menos. Valha-nos o prazer do estômago, já que, na visita, alguém sussurrou "o rei vai nu". Ao lado, a "cabana" construída por livros convocava-nos para novo desafio. Uf, posso recusar, consolei-me. O espelho, no interior, afigurou-se-me pouco convincente. Cobardemente, aos dois passos em frente seguiram-se dois atrás, e suspirei de alívio, humilde e vencida.
Acabei o dia satisfeita, cumprida a missão de o viver. Saído das chuvas da semana, um cogumelo esplenderoso desafiava a pedregosa aridez de uma das mais importantes artérias de Lisboa, apostado no seu momento.

Actualidade - As Heranças

Lula saíu vencedor. Como era previsto. Sendo assim, para quê e que comentários, esgotados os dias de campanha, relatos, panegíricos ou críticas. Este imenso país escolheu. Esqueceu os desmandos e a corrupção daqueles a quem entregou, mais do que o leme, a sua possibidade de sobrevivência e renovou um contrato de esperança. Quase todos nós, fazemos de surpreendidos e clamamos contra a naturalidade com que o povo brasileiro aceita essa corrupção. Já olhámos para trás, para a sua e a nossa Histórias? Qual dos anteriores governos pensou no bem geral e governou para o comum dos seus concidadãos? Entre a corrupção com favorecimento das élites e a corrupção com algum favor à multidão de excluídos (de uma sociedade que de direito é sua) haverá escolha? Os brasileiros optaram pelas suas necessidades básicas. Alguém, antes de Lula, pretendeu acabar com a miséria, as favelas, as incomensuráveis discrepâncias sociais? Quem pensa na corrupção da mão que lhe mata a fome?
Colômbia, Bolívia, Paraguay, Brasil...., não há coincidências na situação dos povos da América Latina. O imenso sub-continente reproduz o legado dos seus colonizadores. Bem podemos olhar- nos neste espelho.

sexta-feira, outubro 27, 2006

Pompeia -"Goza enquanto podes"

Notícia do "Times" de hoje é a recuperação de mais um importante pedaço da história antiga através do luxuoso lupanar de Pompeia, cujos frescos eróticos acabam de ser restaurados. Direccionado para a élite de então, fornecia-se de belas e competentes jovens, sobretudo escravas de proveniência oriental. Os frescos informavam os clientes dos serviços em oferta, cujos preços eram expostos no exterior do edifício. Sem dúvida cumpria-se o lema "Goza enquanto podes".
Vem a propósito lembrar que a mítica Pompeia, situada na Câmpania, a sudeste de Nápoles, terá sido construída no séc. VI a. C. pelos Oscos. Sofreu infuências de Gregos e de Etruscos, além de outras, mas é sobretudo a influência grega que lhe dará o aspecto de cidade helenística. Colónia romana desde 80 a. C., tornou-se estância de veraneio para os romanos até à catástrofe que a eternizaria em pedra, mas matou a maioria dos seus habitantes. De facto, a erupção do Vesúvio em 79 soterrou-a completamente. Foi descoberta em 1748 e em 1806 as escavações arqueológicas tornaram-se sistemáticas, devolvendo à luz, gradualmente, um tesouro e um valioso contributo para o estudo de vários aspectos culturais da época por ser a única cidade antiga conservada quase intacta.
O escritor e erudito Plínio, O Velho, morreu quando fugia para a costa. A narrativa da catástrofe seria feita por seu sobrinho, Plínio, O Jovem, escritor e político romano, que além desse e de outros escritos nos deixou as suas "Epístolas", outro valioso documento para o estudo político da sua época.
Também alguém, perante a iminência da morte, pôde ainda escrever, na parede de uma casa de Pompeia, versos de Virgílio :" Todos se calaram..."

Actualidade

quarta-feira, outubro 25, 2006

Efemérides - Pablo Picasso

1881
25 de Outubro - Pablo Picasso nasce em Málaga, filho de um professor de desenho que o educou para a arte. Posteriormente, estudou e viveu em Barcelona, indo mais tarde para Paris, onde trabalhou e conviveu com os grandes vultos artísticos da época e se consagrou um dos maiores e mais influentes pintores do séc. XX.. Deixou diversos trabalhos no campo da escultura, gravação e cerâmica, mas é, de facto, na pintura que se consagra e influencia os seus congéneres. A vida amorosa, intensa e aventureira como a sua personalidade, também se reflectiu na eclética obra. Atravessa vários períodos dos quais se destacam o inicial azul, depois o rosa e o negro. Neste germina o cubismo, de que Picasso foi tão alto expoente e cujo início se assinala com o trabalho "Les Demoiselles d'Avignon", aqui representado. Nos últimos anos voltou à temática da juventude - touros, circo, teatro. Morreu em Mougins, França, aos 91 anos de idade.
Celebérrima é a sua "Guenica", símbolo da dor e da devastação provocadas pela guerra civil em Espanha, e que é hoje símbolo de protesto universal.

terça-feira, outubro 24, 2006

As musas dos portugueses

Cá dentro falta-nos tudo. Não temos dinheiro, nem cultura, nem trabalho, nem reforma. Mas temos soluções. Rouba-se. Todos os dias vemos exemplos. E como se não bastasse o supermercado, a edp,o irs, o médico, o mecânico, o Banco ou o Ministério da saúde, há ainda os gangs que proliferam e que não sei se aprendem com aqueles ou se aqueles com estes. Mas é com certeza de inspiração estrangeira. Morremos por estrangeirismos ...Caem bem e fazem-nos parecer mais belos e mais inteligentes. Por isso Marques Mendes se avantaja, com o seu côro de marcelistas comentadores. À míngua de imaginação, vão buscá- la lá fora, claro. A musa húngara vem a calhar, nós somos ingénuos, e eles erguem o seu repetitivo côro, tentando fazer esquecer a música funesta e decadente que maestraram enquanto regentes da orquestra.
Os impolutos estão horrorizados com as promessas não cumpridas.Viveram dos nossos impostos, alimentaram as grandes fortunas, permitiram a delapidação do Estado, ostentaram as suas cortes, e tudo a Bem da Nação e da verdade que nos prometeram. Agora querem voltar. Com as musas...

segunda-feira, outubro 23, 2006

Comunicando

(imagem DAQUI)

Assinalo aqui a emergência de um novo blog, a cujo nascimento não estão alheios, ao que julgo, as saudades da térmica doçura ambiental e afectiva. Que isto de ser cidadão do Mundo tem que se lhe diga, apesar das bem-aventuranças de toda a espécie que colhemos se soubermos aproveitar. Todos os dias falamos dos malefícios da globalização, mas é bom que assinalemos também as oportunidades que crescem neste "maravilhoso mundo novo" e a enorme abertura mental que pode proporcionar. Paga-se um tributo, visível nas páginas deste blog. O autor procura mitigá-lo na ligação cibernáutica com os seus afectos, ao mesmo tempo que narra a aprendizagem feita em cada avanço na integração, não incompatível, pelo contrário, com a procura saboreada de estímulos sensoriais que evocam o nosso pátrio rectângulo.
Por isso te saúdo, "The Expart Flying", contigo dou passos de carinho,de universalismo, e aprendo outros, mais concretos e triviais, visionando, através de ti, o desenho de realidades que a distância me não concede.
Até sempre.

Egofonias

De um nada nasce a diferença. Andava eu naufragada, perdida entre uma abúlica e inesperada indiferença por aquilo que antes tanto me entusiasmava e uma certa (des)convicção do que vale, ou não, a pena, quando se escancarou a porta que interliga emoções em qualquer peito, caminhantes de qualquer latitude. Li e reli o meu último impublicado texto, fechado numa erótica sensação de vazio e de voyeurismo existencial.
"Tumba,
écran gigante, cortinas cerradas coando a luz que me induz, sonâmbula.
A corrida é lá fora, fica a dormência do que vive por dentro.
Dilatada a ilusória forma do que pode ser. Sou e não sou.
A esmo dormito e galgo escadas , sem rumo e sem fim.
No caminho as pedras, flores do meu sonho."
*
Despedaço os pensamentos e o texto. Vou refazer o sentido, na assumpção da onda magnética que o submergiu. Cada dia, uma vida.

terça-feira, setembro 19, 2006

Pausa

Egofonias


Vivo de lado, perdida nas horas dos dias plasmados, de lado roçando nas noites perdidas.
Na busca incessante dos brilho perfeitos, em mares espraiados mergulho de lado.
De lado me deito, de lado me assomo...
De lado o meu grito pela dor do meu lado aqui bem no centro.

Efemérides - Sufrágio

19 de Setembro
1893 - Nova Zelândia : é assinado o Tratado de Glasgow que concede o direito de voto às mulheres, pela primeira vez em qualquer paísdo mundo.
Kate Sheppard destaca-se como presidente do Conselho Nacional de Mulheres da Nova Zelândia. O movimento das mulheres empreendera uma vigorosa e difícil luta pelo que considerava serem os seus direitos de participação. Discursaram e manifestaram-se pelo país inteiro, assinaram petições e alcançaram a vitória neste dia mundialmente marcante.
Desde, pelo menos, 1405 que a luta de mulheres contra o preconceito e a discriminação toma forma escrita e pública : Christine de Pisan publica o seu livro "La Cité des Dames". O caminho seria longo e desbravado por muitas outras mulheres heróicas. Olympe de Gouges ou a inglesa Mary woolstonecraft são alguns desses nomes, mas é injusto não referir os de tantas que lutaram , umas com a pena, como Simone de Beauvoir, outras com o corpo, como as operárias americanas que ousaram fazer greve naquele inesquecível dia 8 de Março de 1857. Ainda hoje, como sabemos, a luta não pode ser dada por terminada. Sintomático que sejam mais raros os homens que ousam tentar inibir a afirmação feminina nesta batalha, insinuando relação directa entre este empenhamento, a fealdade e/ou o celibato. Deles, fica a arrogância e/ou a estupidez.

sábado, setembro 16, 2006

Sóis

Decidi não falar, hoje, do "Sol". Todos os outros o farão por mim. Li o que pude, on-line, não consegui qualquer exemplar - boa desculpa! Cansa-me este Portugal dos pequeninos,em circuito fechado e línguas farfalhudas, de gestos inoperantes.
Que venha o Sol, a chuva e o que mais se quiser. Por mim, só falarei se não for mote.

Egofonias


O boneco que se olha ao espelho, vê o outro. Traço por traço o vai compondo. Ruga que alisa, riso que rasga, passo que dança.Vive do outro. Precisa do outro.Odeia o outro. Ama o outro.
A parede sobrepõe-se ao espelho. Mata o outro. E o boneco.
O finito no seu lugar.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Agatha Christie

(imagem DAQUI)

Também a inglesa Agatha Christie, nascida a 15 de Setembro de 1890, não precisará de apresentação. Viveria o suficiente para nos surpreender em cada página dos seus famosos escritos.Considerada a melhor autora de romances policiais do séc.XX, incluem-se entre as suas criações as figuras de Hercule Poirot e Miss Marple, responsáveis por tantas horas de deleite na minha juventude. A escolha de parceiro para o segundo casamento recaíu num arqueólogo, facto que comentava com ironia, explicando que isso levaria a um cada vez maior apreço por parte dele. Talvez fosse apenas resultado da mal sucedida anterior experiência, em que se viu trocada por uma mulher mais nova. Dela procurou tirar alguma desforra quando andou desaparecida, viajando e divertindo-se sob o nome da rival, Tessa Neele.

Oriana Fallaci

A melhor forma que conheço de celebrar alguém é escutando-o:
"¿Y qué tipo de libertad es la que impide pensar, hablar, ir contracorriente, rebelarse y oponerse a quienes nos invaden y nos amordazan? ¿Qué tipo de libertad es la que hace vivir a los ciudadanos con el temor de ser tratados o incluso procesados y condenados como delincuentes? ¿Qué tipo de libertad que, además de las razones, quiere censurar los sentimientos y, por lo tanto, establecer lo que debo amar, lo que debo odiar y, por consiguiente, si odio a los americanos y a los israelíes voy al Paraíso y si no amo a los musulmanes, voy al Infierno? Una no-libertad. Te lo digo yo" (da sua obra "A Raiva e o Orgulho", excerto in "El Mundo" de 15/09/06)
(Nova Yorque em fundo, numa imagem DAQUI)

quinta-feira, setembro 14, 2006

Isadora Duncan

Isadora Duncan merece destaque por não se ter limitado a viver e reproduzir. Americana de nascimento, teve a sua vida marcada por tragédias familiares que lhe não destruiram o génio e o amor pela dança. Viveu, amou e dançou com intensidade. O seu estilo rompe com os cânones tradicionais e levam -lhe o nome a todas as partes do Mundo. A morte dos filhos e os insucessos conjugais não esfriam a extravagância temperamental. Morreu como viveu, de forma única e vibrante, asfixiada pela longa écharpe, presa na roda traseira de um carro veloz.. Decorria o ano de 1927, ao que parece num dia 14 do mês de Setembro.