Este ano ainda não dei aquela "voltinha" para ver a cidade engalanada com os brilhos de Natal. Reflectidos angularmente pelas gotas das chuvas ou angularizados apenas pelo frio, são sempre sinónimos de festa, talvez não tanto de alegria. Confesso que me penetram de forma ambígua, e pergunto-me se, de facto, me agradam assim tanto. Desde sempre gostei do Natal (agora menos), mau-grado alguns muito arrevezados, que a vida não escolhe datas para nos pregar partidas: algumas, e grandes, me foram feitas lá bem em cima. Apesar disso, o Natal cheira a família, a saudade, a doce cavaqueira, a agasalho e a doces. Mesmo que o nosso não o seja tanto assim, cheira, porque nos alcança o cheiro que deixa nos outros, nas luzes e no ar. E nas crianças. Que isto de "sermos todos solidários e irmãos", para a grande maioria dos terráqueos nem no Natal nem nunca. Mas o meu propósito não era arengar sobre o imenso negócio que esta "festa" gera, nem sobre a dor de cabeça daqueles que têm de multiplicar os cêntimos como Jesus multiplicava os pães. O que eu queria era, isso sim, reflectir sobre a prosápia que domina a cidade e o país, a grande glória de ostentar a maior árvore, as mais numerosas luzes, o maior brilho provisório. Porque cá é tudo provisório. O que é preciso é constar do Guiness. A maior mesa, ou tarte, caldeirada, equilibrista, ou memorizador de números. Basófias, luta de terceiro-mundistas. A de Lisboa ou do Brasil? Qual a maior, com mais luzes e mais gastos? Crise? Esqueçamos, amanhã se verá. Somos os maiores em perícias inúteis. A educação e o conhecimento dão muito trabalho, são de todos os dias.
Sem comentários:
Enviar um comentário