Tinha já (ainda) 16 anos e estava nas vésperas do exame de Filosofia. Data tão pouco própria para a minha imatura gata dar à luz a primeira ninhada, fruto de amores furtivos, aquando das escapadelas que fazia à socapa através do sótão e dos telhados vizinhos. De nada valiam as minhas prontas buscas ou os SOS lançados nas casas alheias pelos atribulados residentes, arranhados e assustados com o trinar de miados e "bbllfffiados". Ela tinha decididio "Viver" com maiúsculas e ser mãe. Para quê censuras se é esse, afinal, o nosso desejo último?! A caríssima podia era ter escolhido melhor a oportunidade. Para mais não se saíu bem da tarefa que devia ser gloriosa e que acabou por se traduzir em "choro e penas". A pobrezita pariu prematuros a conta-gotas. Consolava-me a ideia de que o último, por já ter pêlos e vir mais compostinho, iria resistir. Comi, estudei e dormi ao lado de ambos. No dia seguinte, colhi-lhe o último suspiro e carpi as minhas dores.
Safei-me bem do exame, apesar de tudo, mas, mais do que silogismos ou dúvidas metódicas, guardo o soneto nascido dessa dor.
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Triste se chama o declinar do dia
Em que má sina a mim e a ti tocou
E nas garras da morte te levou
Tornando em noite escura o claro dia
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A vida se evolou do teu corpinho
Deixando-me a chorar, silenciosa.
Com saudades de ti, meu pequenino.
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Amei-te, Laçarote, e quero dar-te
A certeza de que sempre mais saudosa
A vida levarei a recordar-te.
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Soneto patético da patética (melhor diria, sensível) adolescência que nos traça o percurso. Para lembrar com um compreensivo sorriso, já que os afectos ficaram.
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